Os acontecimentos das X Jornadas do Hospital Veterinário Muralha de Évora



 

 

No passado dia 2 deste mês a Associação esteve presente em mais umas Jornadas do Hospital Veterinário Muralha de Évora. De ano para ano o evento melhora, quer na qualidade e relevância das palestras, quer na forma como a organização nos recebe.

Queremos dar os maiores parabéns por este ano o Hospital realizar 10 anos de jornadas e 20 de existência. Não é fácil levar a cabo durante tanto tempo um projecto destes, com todas as controvérsias e dificuldades dos dias de hoje, principalmente nesta área de trabalho. É com grande mérito que chegam até aqui!

Assistimos às palestras dos ruminantes direccionadas aos bovinos e a tudo que envolve a bovinicultura de carne. Apresentaram-se vários oradores com temas actuais e apelativos.

Na sessão de abertura tivemos o prazer de ouvir o Exmo Sr. Engº. Francisco Murteira, Director regional- DRAP Alentejo. Elucidou-nos dos acontecimentos mais importantes do ano 2017 na área da agricultura. Alertou principalmente para a questão das secas e falta de água, relembrando todas as problemáticas inerentes.

Dr. André Preto, médico veterinário a representar a MSD Portugal, volta a chocar com a forma como nos trás a importância da biossegurança nas nossas explorações. É com entusiasmo que nos coloca a pensar nos nossos comportamentos diários: Se praticamos, ou não, a biossegurança. Sempre? E como deve ser?! É “tempo de proteger”.

Criptosporidium, um desafio constante”, é a temática que o Dr. Rui Martins, médico veterinário (Hospital Veterinário Muralha de Évora) nos expôs. Este parasita é extremamente resistente, infectante e transmissível ao homem. Provoca diarreias neonatais, crescimento retardado, perda de peso e mortalidade nos vitelos. Perante isto o Dr. Rui realizou uma pesquisa em algumas explorações e retirou dados assustadores relativamente à prevalência de Criptosporidium. Alerta para cuidados de como identificar, controlar, prevenir e combater.

O Prof. Dr. Virgilio Almeida da CIISA-FMV-UL falou-nos do “impacto das alterações climáticas na epidemiologia das doenças transmitidas por vectores” e suas estratégias de actuação. Chama a atenção para o perigo que os vectores representam para os seres vivos (responsáveis pela transmissão de doenças infeciosas) e como as alterações climáticas que temos vindo a assistir nos últimos anos, podem aumentar a existência destes hospedeiros. Expõe-nos algumas formas de controlo dos mesmos, apelando por uma agricultura inteligente face ao clima e demonstra o quão importante é começarmos já: Melhorando os sistemas de vigilância epidemiológica e desenvolvendo estratégias eficazes de controlo e prevenção às doenças transmissíveis por vectores.

Dra. Sónia Germano, médica veterinária no Hospital Veterinário Muralha de Évora, falou-nos sobre o trabalho que o Núcleo de Reprodução e Fertilidade tem vindo a desenvolver nos últimos 8 anos em explorações de bovinos de carne. Desde então aumentaram substancialmente o número de explorações a realizar o controlo reprodutivo, exames andrológicos, inseminações artificiais e por consequência assistimos a um aumento de fertilidade e taxas de sucesso. Tais resultados só nos alertam para a importância da gestão e controlo reprodutivo nas vacadas.

 

 

De seguida tivemos o privilégio de assistir à palestra do Prof. Dr. Osler Desouzart, consultor do World Agricultural Forum, que já em 2013 nos alertava para o maior problema mundial, a falta de água. 70% do consumo de água no mundo é gasta na agricultura e na produção de produtos animais, sendo a produção de carne bovina a que mais água gasta por cada quilo de carne produzida. Contrariamente a esses dados, o consumo de carne bovina e compra de gado tem crescido de forma notável nos últimos 10 anos e promete continuar a aumentar exponencialmente até 2026. O professor perante estes dados incentiva Portugal à importação e exportação. Só temos a ganhar se nos tornarmos um país não só de produção, mas também de intermediação de gado.

Após agradável almoço, estivemos presente no colóquio do Prof. Dr. George Stilwell da CIISA-FMV-UL, demonstrou-nos a importância das novas tecnologias aplicadas à produção animal (produção animal de precisão). Menciona vantagens e desvantagens da utilização de tecnologias, dá-nos a conhecer algumas novidades do mercado e demonstra como podem ser benéficas para a rentabilidade das explorações. Devemos apostar na evolução, formação e desenvolvimento.

O Prof. Dr. Jorge Ferreira consultor independente, trouxe-nos a problemática da resistência aos antibióticos. Como se desenvolve? Que métodos utilizar para a combater? Acredita que a solução passa pela implementação de um plano global contra a resistência aos antimicrobianos que englobe, não só os animais, mas também os humanos e o ambiente como um todo. “Uma só saúde”.

Posteriormente assistimos ao testemunho da Dra. Marta Dutra, médica veterinária da Zoetis Portugal, sobre o “Maneio de vitelos de alto risco na região do centro dos EUA”. Neste país a maioria dos vitelos passa por um “stocker” antes de seguir para a engorda. Local onde os vitelos de alto risco são divididos em grupos heterogéneos em peso e idade, vacinados, desparasitados, descornados, castrados e submetidos a uma dieta rica em proteína, na expectativa de aumentar a qualidade dos animais. Transformar animais fracos em “seguros”. Dra. Marta explica os planos profiláticos mais utilizados e como se realiza o maneio dos animais nestes locais.

 

 

Por fim presenciámos um debate moderado pelo Prof. Dr. Pedro Lynce (Prof. Emérito da Univ. Lisboa) entre o Engº António Ramos (Aquagril), João Paulo Crespo (Fertiprado), Dr. Luís Miguel Bagulho (Carnalentejana) e Investigador Miguel Potes (ICT-Universidade de Évora) onde se deu espaço ao desenvolvimento de estratégias de adaptação às alterações climáticas que Portugal está a passar e como podemos responder à falta de água que temos vindo a assistir.

Agradecemos ao Hospital Veterinário Muralha de Évora por nos proporcionar um evento tão completo e desejamos a continuação de sucesso no trabalho que desenvolvem.

Escrito e editado por Sara Mega Fernandes por A.P.C.B.R.C. (23/03/2018)